Ocupação da favela da Rocinha

Nos últimos dias assistimos a operação de ocupação da favela da Rocinha, a exemplo do que vimos a pouco tempo atrás, quando a foi ocupado o complexo do alemão, quando a sociedade de maneira geral regozijou ao ver os bandidos correndo da polícia.
Essa é a imagem da semana, tanques de guerra invadindo a rocinha, pacificando aquela comunidade. É o Estado retomando o poder daqueles indivíduos, dos traficantes que dominavam aquele espaço.
A bandeira nacional sendo hasteada num território inimigo, enfim uma guerra vencida. Orgulho, será este o sentimento dos filhos deste solo??

Eu sinceramente penso que não. E quem começa a ler vai pensando, o que é que esse cara quer? Ele é favor do tráfico?? Típico de advogado garantista... Na verdade não é bem por isso que não me sinto orgulhoso. Sem dúvida é indispensável que aqueles moradores, tenham um pouco de paz, que deixem de se submeter aos desmandos dos traficantes aos toques de recolher, à droga batendo a porta de casa, dos filhos pequenos, das filhas que andam nesse caminho porque aquele era o caminho da favela.

O que na verdade não me deixa orgulhoso é o maldito POR QUE?

Regra geral acabamos aceitando as notícias que chegam de todos os lados neste mundo virtual e conectado sem contudo utilizarmos dessa palavrinha quase que mágica, por quê?
E ao me perguntar o porquê definitivamente não me sinto orgulhoso das forças armadas brasileiras que conseguem mostrar aos bandidos quem é que manda em nossa pátria amada.


A primeira pergunta que surge é por que só agora? Anos e anos sob o nefasto domínio do tráfico, famílias e famílias sendo destruídas seja pelas drogas, seja pelas balas perdidas, seja pelo medo diário, por tudo que um verdadeiro Estado Paralelo ao Estado Democrático de Direito chamado Brasil.
Depois de 23 anos de Constituição Republicana que buscava atender os anseios da sociedade, nos deparamos com a ainda viva situação de estado de sítio daquela comunidade. Ora, lá o estado não entrava, não recolhia lixo e diz-se agora que nem se sabe como vai ser possível recolher porque me 80% das ruas não há possibilidade de entrada de carros.
E antes da retomada? A Rocinha era um lixo? Um depósito humano controlado por espécies que mantinham aquele microestado - que de micro nada tinha - sob a lei do silêncio do temor e da reverência.
Mas vão argumentar, "antes tarde do que nunca". Verdade, sem dúvida, não posso também admitir que seria melhor aquela situação durar eternamente. Muito pelo contrário acredito que essa limpeza, com o perdão do termo, deveria ter sido feita há muito tempo...
Mas POR QUE agora? De volta a essa interrogação! Talvez, enfim os governantes do Rio de Janeiro, assim como os daqui de Salvador, tenham percebido que a função do Estado é dar a sociedade segurança, ainda que pra isso seja necessário colocar o exército para subir o morro.
Talvez seja porque os apelos daquela comunidade foram ouvidos, daquela gente pobre e sofrida, gente humilde e honesta, enfim, anos, décadas, quiçá séculos depois, o brado retumbante se fez ouvir ao longe das margens do Ipiranga...
Sem dúvida, o estado retoma o poder que nunca deveria ter sido de outrem, louvável, mas, por que não o fez décadas atrás? Por que fazê-lo somente agora?
Infelizmente, tenho que me lembrar que grandes eventos estão vindo para o Brasil, e a imagem que este florão da América quer passar tem que ser boa para os negócios. O grito ouvido pelos governantes nunca foi o da população sempre abandonada, mas sim outro, muito mais alto e retumbante:
U$$

Comentários

  1. Também me fiz esse questionamento, mas infelizmente o CAPITALISMO, O PODERIO ECONÔMICO é o responsável por cada ação e omissão no nosso País, razão esta que justifica a ABOMINÁVEL CORRUPÇÃO. E para não me martirizar com tal obviedade, prefiro acreditar naquele velho ditado, antes tarde do que nunca. Espero que aquelas milhares de pessoas que habitam a Rocinha e similares,possam desfrutar um pouco daqueles direitos e garanntias fundamentais e ser abarcado por um sentimento de - até que fim o ESTADO olhou para nós que estamos a margem da sociedade.

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