ENTRE ANJOS E DEMÔNIOS



Uma não tão pequena crônica sobre as eleições presidenciais.

Antes de começar esse post, um spoiler: o que escrevo nada mais é do que a minha opinião.

Por enquanto, pelo menos até que o STF a relativize, é livre a manifestação do pensamento (art. 5º, IV da Constituição Federal).

Eu, particularmente, tenho algumas posições ideológicas, por vezes extremamente contraditórias, mas que me permitem ouvir bastante todos os lados.

E ao fazê-lo vejo de um lado amigos (sim, amigos, ainda que só de redes sociais) bradando contra e a favor dos seus políticos, legitimamente escolhidos, pelas mais diversas razões.

Bolsonaro, é para alguns o Salvador da Pátria, para outros o demônio em pessoa.

Hadadd, apoiado por Lula e o PT em si, para alguns, são os anjos que trarão de volta a boa nova, para outros representam o anjo caído que fará do país um inferno.

Ledo engano, de ambos e prometo não estar aqui fazendo uma defesa do Ciro que também não é nenhum santo…

Nem tanto nem tampouco.

Essa polarização me lembra a eleição de 2014 (a gente não aprende, não é mesmo…).

Lembro que um dia cheguei a tirar uma foto das recomendações do facebook para que eu seguisse: metade dos meus amigos seguia a Dilma e a outra Aécio. Eu não seguia nenhum dos dois.

E foi aquela guerra entre Petralhas e Coxinhas…
No final, Dilma levou mas Aécio questionou.

Aécio, deu no que deu neh, afinal “Quem não conhece o esquema do Aécio?” Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro.

Dilma, por outro lado, sem apoio do Congresso sofreu aquela encenação que chamamos de impeachment (ou golpe) para que enfim o Temeroso tomasse o poder.

Lembro-me bem de ter comentado com alguns amigos mais próximos: enquanto vocês estão aí entre PT e PSDB, o PMDB é o câncer do nosso país.

Como eu queria que o agora MDB não elegesse ninguém! Sabe, sem a família Vieira (que agora está bem menor na corrida), olho o time que podemos (devemos) tirar do Congresso:
Renan Filho (MDB-AL) ,Edison Lobão (MDB-MA) Eunício Oliveira (MDB-CE), Garibaldi Alves Filho (MDB-RN), Renan Calheiros (MDB-AL), Romero Jucá (MDB-RR)

Novamente, enquanto polarizamos a discussão em torno dos presidenciáveis, abrimos mão da análise de nossos futuros congressistas. E tenham certeza, independente do Presidente eleito (acho que Marina já tá fora do pário) é o Congresso quem vai dar a marcha do governo.

Feitas as advertências preliminares, passo ao mérito.

Creio que poucos já tenham lido os programas dos seus candidatos, então, como dizem trago verdades.

Eu sei que vocês vão dizer: “ah, mas no programa todo mundo fala o que quer…” eu sei disso e é justamente por isso que acho importante a leitura.

Ora, se naquele momento que o candidato pode me convencer não consegue, não ganhará meu voto.
Aliado a isso, quero mostrar minhas posições pessoais sobre os candidatos.

Pois bem.

Vou começar dizendo porque NÃO voto no Haddad.

Não dá pra falar do PT sem responder a algumas perguntas.
Lula é dono do Triplex? Sinceramente, não vi o processo todo mas creio que sim diante dos fortes indícios apresentados. Lula não é santo.
Tem provas? Creio que não.
Num processo penal garantista (que eu defendo) ele seria absolvido, certamente. Mas no Judiciário que nós vivemos, as penitenciárias estão lotadas de condenando com muito menos provas…
Foi um processo político? Claro que sim!! A louvável rapidez no primeiro e segundo grau, o desrespeito a ordem cronológica de julgamentos (que entendo aplicável ao processo penal).
A própria desconsideração de provas acerca da propriedade da OAS..
Enfim, mas quem vive o dia a dia da área criminal, bem sabe. Inúmeros são os processos em que se tem provas contundentes de que o réu foi torturado pelo policial e, só com base no depoimento do próprio policial, ele é condenado…
E sem sombra de dúvidas esse não é o caminho.

Vivemos, e digo isso há muito tempo, numa ditadura do Judiciário, que faz o que quer como bem entende, sem nenhum respeito ao Direito, à Constituição e às Leis.

E Dilma, foi golpe?

Depende do que você entende por golpe. A nossa Constituição não é perfeita e permite que tal situação aconteça.
Ela praticou um ato que centenas de outros políticos também praticaram. Isso é crime, certamente não! Mas, infelizmente a Constituição diz que o órgão julgador (quem tem a última palavra para dizer se é crime ou não) é o Congresso…
O contrário também pode, e com absoluta certeza aconteceu: denúncias que poderiam ensejar o impeachment, sequer foram processadas pois, de novo, o juiz natural é o Congresso.


Vamos ao Plano Lula de Governo (sim, está assim no TSE), a coligação O POVO FELIZ DE NOVO.

Como o programa de Lula é muito extenso, vou destacar pontos que, na minha opinião merecem destaque.

Pretendem instituir a Política Nacional de Participação Social, expandindo “para o Presidente da República e para a iniciativa popular a prerrogativa de propor a convocação de plebiscitos e referendos, que não poderão dispor sobre temas protegidos pelas cláusulas pétreas da Constituição de 1988. Ademais, será ampliada e potencializada a participação cidadã por meio da internet”.


Muito interessante, afinal, com o acesso muito mais fácil a internet, creio ser necessário possibilitar um maior acesso as decisões nacionais, inclusive de modo menos burocrático e barato.
Todo o projeto no geral tem boas propostas, algumas que ainda pensaria na melhor forma de implementação. Concordo por exemplo com a ideia de “introduzir mudanças na escolha dos integrantes do STF dos Tribunais superiores, conferindo transparência ao processo e um papel maior à sociedade civil organizada” mas tendo a rejeitar “instituir tempo de mandatos para os membros do STF e das Cortes Superiores de Justiça” .


Contudo o que me chama mais atenção é: “construiremos as condições de sustentação social para a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, livre, democrática, soberana e unicameral, eleita para este fim nos moldes da reforma política que preconizamos”.

Minha gente, nossa Constituição só tem 30 anos e vocês já querem outra???

Não. Rejeito por completo essa ideia, mas ainda no momento político em que nós vivemos. Por óbvio precisa de reformas, mas uma nova Constituinte nesse momento, para mim é inaceitável.

Como disse se essa é uma proposta de governo, não me representa.

Talvez ainda um pouco mais que isso. A campanha mostra um Haddad que fecha os olhos para tudo que houve no país.

Vejam meus amigos petistas. O Lula foi um dos melhores presidentes do país. Isso é fato, não há como negar. As condições de vida de toda população melhoraram e muito.
Mas ele tinha tudo para fazer muito mais…
E o pior, as medidas e o apoio do Congresso tiveram um custo, altíssimo.
Houve erros, falhas, crimes, corrupção, ouso dizer que generalizada no partido, não é a toa que os seus caciques estão delatando... (não é um bom argumento)

É preciso separar o joio do trigo. É preciso assumir erros, depurar condutas para seguir em frentes. Enquanto isso não for feito e o PT se fizer apenas de vítima, meus caros, não voto no Partido dos Trabalhadores (não para presidente).

Compartilho das palavras de Noam Chomsk em entrevista a BBC:

Se o PT reconquistar o poder político - ou mesmo se não chegar lá, de uma forma ou de outra -, uma grande tarefa que deve enfrentar é de estabelecer uma espécie de comissão da verdade para olhar com honestidade para o que ocorreu. Olhar com franqueza para as oportunidades que perderam. Isso teria um grande significado.
Eles tiveram tremendas oportunidades. Algumas foram usadas em benefício da população, outras foram perdidas. É preciso perguntar por que isso ocorreu, e fazer isso publicamente. E realizar reformas internas que impeçam que aconteça outra vez. Isso deveria ser feito independentemente de chegarem ao poder. O mesmo vale para todos os partidos, ninguém está imune a isso”.

De novo, essa é a minha opinião, daí porque não votarei no PT nesta eleição.

Então para salvar o país, Bolsonaro?

Com certeza, também não.

Não acho que endemonizar seja o caminho mais correto, afinal, como disse não estamos entre anjos e demônios.

E convenhamos, no atual sistema político, ninguém galga cargos de poder imaculado.

O Caminho da Prosperidade, nome do programa de Bolsonaro tem algumas boas propostas.

Sim senhores, tem.

O plano fala em redução de Ministérios, citando que atualmente temos 29 estruturas ministeriais, afirmando textualmente que: “Um número elevado de ministérios é ineficiente, não atendendo os legítimos interesses da Nação”.

Veja um dos poucos que diz textualmente a pretensão de cortar gastos da estrutura executiva.

Traz ainda uma proposta de Orçamento base zero, afirmando que: “O montante gasto no passado não justificará os recursos demandados no presente ou no futuro. Não haverá mais dinheiro carimbado para pessoa, grupo político ou entidade com interesses especiais”.


Na área da saúde, vi algo que me pareceu bem interessante: a criação do Prontuário Eletrônico Nacional, em que “os postos, ambulatórios e hospitais devem ser informatizados com todos os dados do atendimento, além de registrar o grau de satisfação do paciente ou do responsável”. Não sou da área mas acredito que de fato, “o cadastro do paciente reduz custos ao facilitar o atendimento futuro por outros médicos, em outros postos ou hospitais. Além disso, torna possível cobrar maior desempenho dos gestores locais”.

Na área econômica propõe algo, que embora não seja da área tendo a concordar: umaindependência formal do Banco Central, cuja diretoria teria mandatos fixos, com metas de inflação e métricas claras de atuação”.

No tocante a segurança pública, particularmente tendo a discordar das soluções apresentadas.

De fato, vivemos um caos na segurança pública e no judiciário, mas não creio que o caminho proposto pelo candidato seja o mais adequado à melhoria da situação.

O ponto inicial é tratar a segurança pública como uma guerra, não obstante reconheça que meus amigos policiais vivem essa guerra diária, só não acho que essa seja a solução.

Não vou muito longe, a folha 30 do seu programa o candidato traz alguns gráficos sob o seguinte título: “PRENDER E DEIXAR NA CADEIA SALVA VIDAS! Mato Grosso do Sul, São Paulo e Brasília são os que mais prendem e os que mostram avanços...

Os gráficos mostram que esses três estados têm as maiores taxas de encarceramento e, comparando com um segundo gráfico que trata da variação da taxa de homicídios, tiveram significativa redução.

Entretanto, os mesmos gráficos mostram o Estado do Piauí com uma das menores taxas de encarceramento e no mesmo patamar de redução de homicídios dos estados citados pelo candidato.

O que isso significa? Simples a segurança pública e a criminalidade não é algo tão simples assim…

Não basta prender e, segundo suas propostas: “Acabar com a progressão de penas e as saídas temporárias!” para simplesmente ver os números de violência decaírem.

Aumentar o tempo de prisão ou encarcerar mais é a estratégia que o legislativo vem adotando há anos e não vem tendo resultados.

Pelo contrário, não há como negar que a nossa política de encarceramento auxiliou no crescimento de organizações criminosas gigantescas, cujos tentáculos se ramificam internacionalmente.

Não sou abolicionista, e acho que a prisão é necessária mas acredito que não temos que prender mais, mas sim prender melhor.

Não creio nessa estratégia de enfrentamento (novamente, guerra) contra as drogas, que coloca nossos policiais, mau pagos, sem treinamento ou equipamento adequado na caça a traficantes, em seu território.

Essa guerra está fadada ao insucesso. Só para lembrar, essa é apenas a minha opinião. Em palavras mais diretas, mata-se um aviãozinho, aparecem 10 no outro dia. Mata-se o dono da Boca, o rival aparece no outro dia. Desmantela e sufoca uma organização criminosa, no outro dia outra vai tomar o seu lugar.

É preciso repensar caminhos, e particularmente creio que a proposta de guerra não seja a melhor.

Diante das propostas apresentadas, não votarei no candidato Bolsonaro.

Mas preciso ir mais além.

Desculpem os B17 mas a atuação dele no Congresso é pífia.

Ele como boa parte dos nossos congressistas tem um imenso custo sem um resultado minimamente aceitável.

O Bolsonaro é um típico falastrão.

Fala o que vem na cabeça, sem pensar.

Vejam que isso é uma boa característica porque consegue afastar todo o marketing por trás da campanha mas, no caso dele mostra seus dogmas pessoais e suas posturas às quais, rejeito veementemente.

Um cara que fala:

“Ô Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu” (À Preta Gil, quando questionado sobre o que faria se seu filho se apaixonasse por uma negra. Março de 2011).

Eu fui em um quilombola em El Dourado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador eles servem mais. Mais de um bilhão de reais por ano gastado com eles”, (Clube Hebraica do Rio de Janeiro, em abril de 2017)

Na minha singela opinião alguém que traz esse discurso é racista.

Sempre digo que a pessoa tem o direito de não concordar com relacionamentos homossexuais, sim, liberdade de expressão. Seja por convicção religiosa, pessoal ou o que quer que seja. Entretanto, respeitar a escolha de cada um e respeitar o outro é um dever:


7 - “Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater” (Em entrevista sobre uma foto do ex-presidente FHC ter posado em foto com a bandeira gay e defendido a união civil, em maio de 2002)

Um cara que diz isso, na minha opinião, é homofóbico.

Até onde sei, a maioria das religiões é a favor da vida:

“Eu sou favorável à tortura, tu sabe disso” (A um programa de TV, em 1999). E “O erro da ditadura foi torturar e não matar” (Em entrevista no rádio, em junho de 2016).

Meus caros, acredito que esse tipo de posicionamento, vindo de um militar candidato à Presidência da República seja um tremendo perigo ao Estado Direito e à Democracia.

E quando o assunto é mulheres ocupando cargos em seus ministérios:

Não é questão de gênero. Tem que botar quem dê conta do recado. Se botar as mulheres vou ter que indicar quantos afrodescendentes” (Em entrevista em Pouso Alegre, questionado se aumentaria o número de mulheres no ministério, em março de 2018).
Ou pior: Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”. (Clube Hebraica do Rio de Janeiro, em abril de 2017)

Como disse fazê-lo de demônio, a meu ver não é o melhor caminho, mas pessoalmente, embora não vote no PT pelos motivos já dito, não votaria, nunca, em um candidato com tais posturas e visões.

Sem esquecer do Vice não é gente? Já tivemos Temer, imagina um General Mourão?

Então Ciro é um anjo?

Porra nenhuma! Representa uma política velha, de um coronelismo ultrapassado, quem conheço de lá da terra dele me fala de barbaridades e perseguições. Também é um falastrão, mas nenhuma fala que até então me fizesse dizer: não voto nele.

Seu programa também, nada que me fizesse dizer não voto nele.
A Vice dele é sem dúvida alguém que me preocupa, Kátia Abreu foi Ministra de Dilma da Agricultura muito ligada ao Agronegócio, contrária a reforma agrária…

Mas vamos a realidade, dia 1 de janeiro de 2019.
Cenário 1. Bolsonaro vence. Sem muito apoio do congresso, sabe aquela Turma do MDB e outros que se dispersaram e que só estão lá para mamar? Vão correndo oferecer apoio.
Mas ainda assim não será grande e o Presidente enfrentará uma rejeição de 40% da população, o que reflete no Congresso, voltamos ao clima polarizado.
Cenário 2. Haddad vence. 40% da população não aceita mais o PT, a esquerda até pode se juntar ao governo mas a oposição será ferrenha.

E se rolar uma virada e Ciro chegar ao Segundo Turno. Ele vence. Acho que consegue juntar gregos e troianos num governo viável, com boas propostas.

No primeiro turno estava dispostos a votar no Boulos (embora também discorde severamente de muitas de suas posições) mas queria dar uma força para essa nova esquerda que vem crescendo.

Entretanto, partindo da premissa de que não quero nem o PT nem o Bolsonaro, votarei no Ciro.



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