Os porquês do nosso dia a dia


Constantemente somos bombardeados com uma quantidade imensa de informações diariamente. Crise mundial de um lado, gripe suína do outro, guerra no Iraque, atos secretos no Senado, o rei do pop que morre, e por ai vai...
Todavia, estamos muito mal acostumados. Digo isso, pois absorvemos tais notícias sem o menor questionamento sobre elas. A mídia, de modo geral, impõe aquilo que deseja em nossas mentes bitoladas sem a menor contestação por nossa parte.
Os fatos e os números que, à primeira vista, nos parecem difíceis de serem manipulados são os mais maleáveis. O presidente do Senado, por exemplo, está a ponto de renunciar ao cargo devido a denúncias escandalosas e o Jornal Nacional ocupa mais da metade do seu tempo contando a vida de Michael Jackson ( mais uma vez por sinal) e mostrando o clipe da música Thriller. Vejamos que o que está acontecendo é um fato, mas a depender do foco dado pelo meio de comunicação a notícia poderá ter uma repercussão bem maior ou menor do que aquela que ela deveria ter.
Não há que negar a importância de sermos cidadãos informados, conscientes dos problemas que afligem nosso país. Agora, porém, precisamos ir mais longe e ao ver, ouvir, ler as noticias é imprescindível que surja o porquê.
Por que essa matéria ganhou a capa do jornal? Por que ocupar tantas páginas de uma revista entrevistando esse cara? Os diretores da emissora têm interesse sobre o assunto, por quê?
E mais que isso, quando chegarmos ás respostas continuar questionando, por quê? Após passar pela primeira barreira: a forma como recebemos a notícia; temos que transpor a segunda: quais motivos levaram aquele acontecimento?
Analisemos um caso concreto, a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Os meios de comunicação que apóiam o governo abrem manchetes, destacando a atitude do governo. Já os de esquerda, e quando falo de esquerda são os que sofrem influência da oposição, trazem o assunto de forma tímida, discreta, entre notícias em muita importância. Vejam a relevância disso: naquelas, a imagem que fica é: “Nossa! O governo baixou os impostos”; nesses, “É... teve um negocio aí com um tal de IPI.."
Passemos à segunda etapa que já é mais complicada. O IPI incide sobre qualquer produto industrializado. Com a redução deste, o governo deixa de arrecadar uma grande soma em sua receita, no entanto, essa redução estimula toda a economia. Menos impostos, o preço desses produtos cai, assim o consumidor compra mais, fazendo com que a indústria produza mais o que a leva a contratar mais funcionários (trazendo mais pessoas para o mercado consumidor) e comprar mais máquinas que aumentam a produção e diminuem os custos gerando um ciclo de crescimento.
Mas se é tão bom por que não fizeram isso antes? Bom, a arrecadação diminui fazendo com que as receitas caiam e sobre menos dinheiro para o governo investir; os produtos industrializados são em grande parte vendidos a prazo o que faz com que o consumidor fique endividado, que vai acabar gerando uma inadimplência no futuro. Comprando agora, lá na frente, uma hora aqueles que compraram vão parar de fazê-lo para pagar suas dívidas e isso de forma generalizada pode causar uma retração ( que é uma diminuição na atividade econômica do país). Esta fará as empresas diminuírem sua produção posto que existam menos compradores, assim menor produção precisa de menos funcionários e não há a necessidade de investir me bens de produção. Funcionários demitidos são desempregados que não tem dinheiro para pagar as prestações adquiridas há tempos atrás quando os preços eram atraentes por conta da redução do IPI e continua o ciclo inverso.
E nessa seara me vem outra pergunta se pode ser tão bom e ruim ao mesmo tempo por que fazer agora? Então passou pela minha cabeça que o próximo ano é ano de eleição e o governo tem serias restrições legais para que este não se aproveite da máquina do Estado e inaugure obras e obras e reeleja o candidato do partido desse modo precisará de receita não tão grande. Podendo dar-se ao luxo de diminuir a porcentagem de arrecadação. Pode-se também perceber que as conseqüências boas são logo vistas ao passo que as más levarão um certo tempo para serem notadas. Ora, a eleição é no próximo ano e com certeza ouviremos: “A economia deu um salto...” “Nunca antes na história desse país tivemos um nível de desemprego tão baixo.” “No ultimo ano tivemos um crescimento de tantos por cento...”
E é assim, nesse labirinto de porquês que chegamos à verdade por trás das notícias. Ou não, afinal de contas por que será que estou escrevendo tudo isso?

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